sábado, 4 de junho de 2011

Musica!

Texto Literário !

Rio em flor de janeiro
 Carlos Drummond de Andrade

A gente passa, a gente olha, a gente pára
e se extasia.
Que aconteceu com esta cidade
da noite para o dia?
O Rio de Janeiro virou flor
nas praças, nos jardins dos edifícios,
no Parque do Flamengo nem se fala:
é flor é flor é flor,
uma soberba flor por sobre todas,
e a ela rendo meu tributo apaixonado.

Pergunto o nome, ninguém sabe. Quem responde
é Baby Vignoli, é Léa Távora.
(Homem nenhum sabe nomes vegetais,
porém mulher se liga à natureza
em raízes, semente, fruto e ninho.)

Iúca! Iúca, meu amor deste verão
que melhor se chamara primavera.
Yucca gloriosa, mexicana
dádiva aos canteiros cariocas.
Em toda parte a vejo. Em Botafogo,
Tijuca, Centro, Ipanema, Paquetá,
a ostentar panículas de pérola,
eretos lampadários, urnas santas,
de majestade simples. Tão rainha,
deixa-se florir no alto, coroando
folhas pontiagudas e pungentes.
A gente olha, a gente estaca
e logo uma porção de nomes populares
brota da ignorância de nós todos.
Essa gorda baiana me sorri:
– Círio de Nossa Senhora... (ou de Iemanjá?)
– Vela de pureza, outra acrescenta.
– Lanceta é que se chama. – Não, baioneta.
– Baioneta espanhola, não sabia?
E a flor, que era anônima em sua glória,
toda se entreflora de etiquetas.

Deixemo-la reinar. Sua presença
é mel e pão de sonho para os olhos.
Não esqueçamos, gente, os flamboyants
que em toda sua pompa se engalanam
aqui, ali, no Rio flóreo.
Nem a dourada acácia,
nem a mimosa nívea ou rósea espirradeira,
esse adágio lilás do manacá,
esse luxo do ipê que nem-te-conto,
mais a vermelha aparição
dos brincos-de-princesa nos jardins
onde a banida cor volta a imperar.

Isto é janeiro e é Rio de Janeiro
janeiramente flor por todo lado.
Você já viu? Você já reparou?
Andou mais devagar para curtir
essa inefável fonte de prazer:
a forma organizada
rigorosa
esculpintura da natureza em festa, puro agrado
da Terra para os homens e mulheres
que faz do mundo obra de arte
total universal, para quem sabe
(e é tão simples)
ver?

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Texto!

Carta do Padre Fábio de Mello 


A graça de ser só. 
Ando pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir família.
 
Já presencieidiscursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar. 

Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do “pode ou não pode”. 
  A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais. Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar não me priva do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a possibilidade de ser dos que precisam de minha presença. Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que acredito ser o certo.

 Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi imposta. Ninguém me obrigou ser padre, e quando escolhi o ser, ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos. É questão de maturidade. 
  Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na carne a necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças continuem vivas. Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro do meu coração. Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco para minha castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar em “propriedade privada”. Querem depositar sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que eu sou o redentor de suas vidas.
  Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve os problemas do mundo.
 Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras, nem olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere. Fizeram sexo demais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho. 

É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso perguntamos sempre – É de livre e espontânea vontade que o fazeis? – É simples. Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas predileções.
A graça desça sobre cada um de vocês meus filhos!
Em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo
AMÉM
! 
Padre Fábio de Melo 

Texto!

Corações divididos!


Para algumas pessoas, o amor passa por um crivo racional antes de ser expresso ou vivenciado. Ou seja, é ditado mais por valores do que por impulsos. Para outras, é pura emoção. Ou seja, amor é praticamente sinônimo da autêntica paixão. 

Dinâmicas à parte, o fato é que há muito do amor que nenhum de nós consegue explicar, dimensionar ou compartimentar, ainda mais quando se trata das relações conjugais – já tão complexas por si só. 

No entanto, como o futuro é incerto e o destino de cada um jamais se revela antes da hora, podemos afirmar que ninguém está à salvo de se flagrar com o coração confuso e perturbado entre dois amores. 

Talvez sejam essas as palavras que mais traduzam os sentimentos de quem se vê, de repente, sem conseguir fazer uma escolha tão importante quanto “com quem ficar”. Com as duas? Com nenhuma? E se decidir por uma, como abrir mão dos encantos da outra e vice versa? 

Acontece que nada, absolutamente nada nesta vida é somente bom ou somente ruim. Não podemos dividir as pessoas em “tudo o que amo nela” e “tudo o que não gosto”. Argumentos como “fulano é divertido, bem-humorado e criativo, enquanto que cicrano é romântico, responsável e bem-sucedido” só servem para demonstrar ainda mais o quanto não estamos comprometidos com o amor e sim com nossos caprichos pessoais. 

Amor é, acima de tudo, aprendizado, crescimento, evolução. É a oportunidade suprema que cada um de nós tem para reconhecer não as qualidades ou as limitações do outro, mas sim as nossas próprias. Não as dificuldades e os erros do outro, mas sim os nossos. Como tão bem profetizou Rainer Maria Rilke: 

"Amar outro ser humano é talvez a tarefa mais difícil que a nós foi confiada, a tarefa definitiva, a prova e o teste finais; a obra para a qual todas as outras não passam de mera preparação". 

Portanto, se você se descobrir confuso entre duas pessoas, sem saber em quem investir ou, pior, desejando investir nas duas ao mesmo tempo, imagine como se estivesse navegando por um mar imenso, intenso e profundo estando em dois barcos ao mesmo tempo, com um pé em cada barco... Impossível alcançar estabilidade. Impossível determinar um roteiro. Impossível chegar a qualquer lugar. E mais do que isso: perigoso, muito perigoso! 

Sim, certamente essa imaginação não é suficiente para que você consiga chegar a um novo cenário para esta história. Minha sugestão é para que você ouça cuidadosa e atentamente o que diz seu coração. Ele sabe a resposta, antes mesmo de sua razão. Se estiver difícil, pegue uma folha de papel e escreva tudo o que você mais gosta em cada uma e tudo o que você não gosta. Reflita sobre o que está em sintonia com o que reconhece em você mesmo, inclusive as limitações, os “defeitos”. 

Lembre-se de que amamos ou odiamos aquilo que está, antes de mais nada, dentro de nós mesmos. Admiramos aquilo com o que nos identificamos. Desejamos o que nos complementa. E nesta mesma proporção, escolhemos conforme a clareza de nossa própria consciência. 

Se o seu coração está dividido, pare e perceba o que é que você está realmente buscando: felicidade ou perfeição? Aprendizado ou respostas prontas? Compromisso ou justificativas para suas próprias inseguranças? E assim, muito mais voltado para si mesmo do que para qualquer outro amor, terminará descobrindo que amar o outro é um exercício diretamente proporcional ao de amar a nós mesmos!